Entrevista #3: Saulo Camarotti - Criador e programador chefe da Behold Studios



Quem de vocês não ouviu falar de Knights of Pen and Paper? Pode ser que você não conheça, pois o jogo acabou tendo um sucesso bem maior no exterior, mas você ainda tem chance meu caro padawan, pois ele está disponível na app store, google play e steam.


O jogo teve críticas positivas de vários sites famosos, como o Kotaku, IGN, Slide to play e metacritic. Ele foi criado por uma empresa de brasília, chamada Behold Studios, que já tem um novo projeto bem encaminhado e bastante esperado: o Chroma Squad.


Galford Strife conseguiu entrevistar Saulo Camarotti, criador e programador chefe do Behold Studios.

Confira a entrevista na íntegra

Sidequest: Primeiramente, gostaria de saber mais sobre o Behold Studios e como surgiu a ideia de criar um estúdio de games.

Saulo Camarotti: Começamos em 2009, saindo do curso de Ciência da Computação. Eu e meu sócio na época já tínhamos feito uns jogos durante o curso e ganhamos até dois prêmios, um no Campus Party 2008 e outro no SBGames 2008. Aí achamos que a coisa poderia ficar mais séria, abrimos uma empresa depois de realizar um curso de plano de negócios e procurar por uma incubadora de empresa lá na UnB (Universidade Nacional de Brasília). Começamos então como uma empresa toda "certinha". Com funcionários, procurando por investidores, fazendo jogos sob demanda, serious games, etc. Mas não deu muito certo, em dois anos, meu sócio saiu, e fiquei com a Behold vazia. Decidi então recomeçar, com a mesma marca e tals, mas dessa vez a behold faria jogos indies, daqueles que nós mesmos gostaríamos de jogar... Daí surgiu Knights of Pen & Paper e vários outros. Então, com a App Store e o Google Play, a gente podia fazer nossos jogos, e vende-los nós mesmos. Isso deu muito certo, fizemos jogos que venderam muito bem, especialmente o KoPP (Knights of Pen and Paper) que ganhou prêmios importantes, e hoje crescemos de novo, somos uma família grande e feliz aqui fazendo os jogos dos nossos sonhos (risos). Somos 7 na empresa, e uns 3 satélites que nos ajudam de vez em quando. Ficamos em Brasília e estamos aí a 5 anos...

Saulo e a equipe fazem uma brincadeira com o jogo, abaixo a tela do próprio jogo


SDQ: Sobre o Knights of Pen and Paper, que até o momento foi merecidamente o jogo de maior sucesso do estúdio, sabemos que vocês o fizeram como uma homenagem ao tradicional RPG de mesa, mas como surgiu essa ideia? E além do RPG, vocês tiraram ideias de outros lugares?

SC: Pois é, a ideia surgiu exatamente de fazer uma homenagem ao que seria a raiz do RPG. Queríamos fazer um jogo muito simples, muito direto e nostálgico do que seria um RPG. Pensamos no Pokémon, no Final Fantasy, e outros RPG's da época. E logo veio a ideia de fazer um RPG sobre RPG, e ficamos muito empolgados com a ideia. Em pouco tempo o jogo foi pro papel, começou a parecer muito divertido, e logo implementei um protótipo. No início era só eu e o Hugo (Hugo Vaz, artista da empresa), começando esse projeto. Eu programando e o Hugo fazendo a arte. Na época a gente só fazia jogos para mobile, e por isso Knights foi inteiramente pensado em mobile. Então, por ser um projeto nostálgico, tudo que influenciou a gente na época de adolescente que a gente jogava RPG de mesa, tem no jogo. Desde filmes, jogos antigos, comics, brinquedos, personagens, tudo. O jogo é lotadíssimo de referências. O tempo todo tem referência nova.

SDQ: Até do desenho Caverna do Dragão, certo?

SC: Sim, sim!

SDQ: E vocês pensam em lançar uma continuação?

SC: Com certeza! Já tem duas no forno... segredíssimo.

SDQ: Pelo que podemos perceber, principalmente pela internet, o jogo aparenta ter feito um sucesso internacional maior do que em território brasileiro, pois a maioria das matérias e críticas sobre o jogo são gringas. Por que você acha que isso ocorreu?

SC: 95% do nosso público é de fora. Acho que o público lá fora está mais acostumado com jogos indies, pixel art. Por aqui a gente recebeu muita crítica negativa, como se a escolha de fazer em pixel art fosse uma debilidade nossa, e não uma vontade de prestar uma homenagem. Seja o que for, quando fazemos jogos, fazemos para o mundo, inclusive ou não o Brasil. O jogo está em pt-br, mas sabemos que nosso público daqui é pequeno. Também tem inúmeras piadas que só os brasileiros entenderiam, mas nem todos se interessam.

SDQ: Eu confesso que quando lançou eu fui um desses poucos brasileiros que gostou, inclusive tive um certo vício com o jogo...

SC: (risos).


SDQ: E com relação ao Chroma Squad, sabemos que foi inspirado nos super sentais japoneses, como surgiu essa ideia?

SC: Pois é, crescemos assistindo todos os tipos de sentai na TV Manchete. E depois do knights pensamos que queríamos fazer um jogo sobre sentais, e daí veio a ideia de manter a meta linguagem, e fazer um jogo sobre um estúdio de sentais. Casou bem com o público que tínhamos do Knights, e lançamos a campanha do Kickstarter uns 3 meses depois de iniciar o projeto.


SDQ: Campanha essa que foi um sucesso... Inclusive, vocês já receberam luz verde na steam.

SC: Sim, sim, e também recebemos aval da sony e da microsoft. Chroma Squad é oficialmente um jogo pra console e steam. No fim deste ano, pro inicio do próximo, sairão pra essas plataformas.

SDQ: E como foi essa negociação com a sony e a Microsoft?

SC: Foi bem tranquila. Eles convidaram a gente pro programa de incubação. Hoje recebemos ferramentas e consoles deles para que a gente possa fazer jogos. Então, começamos pelo Chroma.


SDQ: Sabemos que vocês tiveram problemas com a Saban. Foi por eles acharem que o jogo era um plágio dos Power Rangers?

SC: Sim. Eles acham muito parecido com Power Rangers. Então abordaram a gente para conversar sobre uma possível parceria. Ainda não sabemos no que vai dar isso tudo, mas estamos negociando.

SDQ: E voltando a falar do jogo, a ação é feita em um sistema de RPG estratégico, vocês se basearam em algum jogo específico pra criar esse sistema?

SC: Nós criamos um sistema que foi tanto baseado no Knights, quanto em outros jogos que já jogamos e nos inspiram, como final fantasy tactics e X-COM principalmente.

Hora da ação no Chroma Squad

SDQ: E como você acha que o jogo se classifica? Visto que ele acaba fazendo um mix de vários estilos, como RPG, gerenciamento...

SC: Ele é como o X-COM, é um RPG Tático. Ele basicamente tem dois momentos do gameplay, um de organizar e gerenciar o seu esquadrão e seu estúdio, definir estratégias de marketing, comprar coisas, etc. E tem a parte tática que entra como se fosse a gravação dos episódios do seu show de TV.

SDQ: Eu achei bem interessante o fato de você ganhar benefícios ao seguir as instruções do diretor ao gravar o episódio...

SC: (risos) Isso. A ideia é que o seu show fique interessante para o expectador, então, tem sempre esses objetivos secundários e também tem aqueles que o próprio jogador vai criando pro show dele.


SDQ: Isso é mesmo muito interessante e, de certa forma, inovador.

SC: (risos) Que bom!

SDQ: E além desses dois jogos mais conhecidos, que outro jogo do estúdio você gostaria de destacar? E qual foi o jogo no qual você mais gostou de trabalhar?

SC: O knights realmente foi meu xodó. Foi um projeto criado com muito carinho, em um momento de dificuldade da empresa. Mas esse projeto nos manteve firmes e fortes.

SDQ: Até porque, mesmo com o crescimento aparente da indústria de games do brasil ainda é difícil manter um estúdio em terras nacionais, você ainda acha que tem uma falta de incentivo no mercado brasileiro?

SC: Não. Brasileiro que fica esperando mamar do governo... Sendo que ninguém mais em nenhum outro lugar do mundo está mamando. Temos viajado o mundo todo para mostrar nossos jogos, e cada vez que conhecemos outros indies developers, percebemos que a ralação é sempre presente. É uma coisa inerente de se querer construir o seu próprio sonho. Não existe caminho fácil, mas lhe garanto que todos são divertidos, pois se aventurar assim num projeto na vida dá sentido pra tudo isso. Fazer jogos exige muito conhecimento técnico, exige muito carisma pra se conhecer novas pessoas e trocar ideias com developers e mídia de todos os lugares, exige que a pessoa seja qualificada. Se alguém está procurando um caminho fácil, melhor procurar outros trabalho que exijam menos.

SDQ: No caso, o que conta mesmo é a dedicação e o estudo...

SC: Também, e a prática. Como que um médico fica bom? Quando ele já tratou de pacientes dos mais diversos tipos. Quando que um piloto pega um Boeing? Depois de ter pilotado centenas de milhares de horas em pequenos aviões, e aprendeu a dominar a complexidade do maior. Tudo na vida é assim, anos de aprendizado e experiência. Eu ainda só tenho 5 anos de indústria. Não sou nenhum pró, mas quero muito ainda caminhar pelos próximos anos e décadas aprendendo cada dia mais.

Vídeo de um dos desenvolvedores, mostrando mais sobre o Chroma Squad


SDQ: Torcemos por isso. E com o desenvolvimento do Chroma Squad quase no fim, vocês já tem a ideia do próximo projeto? É algo que possamos saber?

SC: Não sabemos ainda, muitas possibilidades (risos). Mas estamos felizes de poder entregar o Chroma Squad. Meio atrasado (risos), mas finalmente está chegando ao fim.

SDQ: O que importa é que o jogo já tem um bom número de fãs que aguardam ansiosos... Bom Saulo, muito obrigado pela entrevista, esperamos que o Chroma Squad faça até mais sucesso que o Knights of Pen and Paper, e que você passe a acompanhar o SideQuest (risos).

SC: (Risos) Valeu!!

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