Finalmente, o desafio de ontem em jogo de hoje


Texto por: Renan Kalil 

Com o alardeado lançamento de Dark Souls 2, trago essa humilde análise do predecessor de seu predecessor, chamado Demon's Souls. Venho por meio desta apresentar à quem não conhece essa obra prima do mundo dos games e indicar o que mais curti nela. Se curti tanto o primeiro jogo da série, tenho certeza que vou pirar nessa nova aventura de Dark Souls.

Enfim, vamos logo ao que interessa.

Eu jogo videogame desde a época em que a Microsoft nem tinha entrado nos console wars e a maior disputa do mundo pixelizado era entre um encanador que curtia viagens de cogumelo e um ouriço que ignorando sumariamente as leis da natureza, era o ser mais rápido vivo.

Era uma época áurea. A criatividade das produtoras de jogos estava a todo vapor e saiam novas franquias que se tornariam clássicas. Apesar de várias características memoráveis, o que eu sinto mais falta nos jogos dessa geração é aquela sensação de "dever cumprido", de ter sido um herói, mesmo que virtualmente. Essa sensação era efeito de uma causa já discutida em diversos lugares: os games estão muito mais fáceis nos dias de hoje.

Sim, eu já joguei jogos maravilhosos nessa geração, mas a sensação de contentamento por ter vencido um inimigo difícil e muitas vezes mais forte que você é quase inexistente por causa de recursos como checkpoints a toda hora e auto-saves salvadores. Nunca mais tivemos a frustração de ter que voltar lá no começo da fase: "Nunca mais sentirei essa sensação"... Era o que eu pensava até conhecer Demons's Souls.

A premissa é a seguinte:

Um antigo rei buscando mais prosperidade para o reino de Boletaria resolve usar da antiga magia das almas. Ele consegue o que quer, mas como dano colateral, ele acorda o mais poderoso demônio conhecido. Junto dele uma neblina misteriosa que parece enfraquecer e enlouquecer todos que entram em contato com ela, além de guardar demônios menores que resolvem que vão tomar o mundo pra si. Vários dos maiores guerreiros adentraram a neblina sem jamais retornar, até que um nobre consegue tal ato e relata os horrores do lado de dentro da cortina infernal. É claro que é nesse momento que o protagonista, em um arroubo de coragem ou loucura, decide que será ele (a) que irá terminar com o julgo da besta e trazer novamente a paz para o seu reino.

Péssima decisão...

Este RPG de ação vai te massacrar no início, vai te deixar nervoso por morrer para escravos, que no jogo são dos inimigos mais fracos e mesmo assim você se verá preso numa campanha quase masoquista para salvar o reino de Boletaria e o mais importante, matar todos esses malditos demônios. E têm demônios para todos os gostos, como por exemplo: dragões gigantes, aranhas enormes de armadura, cavaleiros do tamanho de torres, magos arcanos poderosíssimos etc.


Sem checkpoints fáceis, cada vez que você morre será mais uma vez que você se vê sem almas (o "dinheiro" do jogo) e tendo que retornar ao começo da fase com todos os seus inimigos vivos e sedentos por sangue fresco de guerreiro. Outro aspecto interessante o uso dos “worlds tendencies”, que basicamente funcionam como um "termômetro" para o jogo: se está mais voltada para a “white tendencie”, seus inimigos serão mais fracos e suas defesas mais fortes, já se estiver mais voltada para a “black tendencie”...

Bom, aí você terá problemas ainda maiores.

Ah e uma dica: Tente não morrer tanto, pois ao morrer muitas vezes pode acarretar em uma mudança automática do mundo para “black tendencie”. Isso mesmo. Você pode tornar o jogo que você está achando difícil ainda mais difícil por perder nele.


O modo on-line funciona magnificamente e você poderá dividir a responsabilidade com um colega, além de reclamar com ele por não ter feito o que combinaram e morrer pela décima vez na mesma parte do jogo. Os gráficos não são dos mais impressionantes, até porque o jogo foi lançado em 2009, mas isso não fará tanta falta, pois os 5 mundos do jogo são bela e competentemente apresentados, tendo nuances diferentes e inimigos exclusivos de cada lugar.

Se você é como eu e sente falta da sensação de "merecer" ver o final do jogo e se sentir feliz por ter finalmente vencido, recomendo fortemente que dê uma chance para Demons's Souls. E posteriormente para o sucessor espiritual da série, chamado Dark Souls. Mas se prepare para passar muita raiva antes de realmente ser o salvador de Boletaria. Medite um pouco antes e jogue descansado, pois você precisará de toda a calma que puder juntar.