Estamos fazendo a escolha certa nessa geração?
Quatrocentos ou quatro mil, o PS4 foi lançado de fato e com isso a nova geração está completa e pronta para começar o seu legado. Chega de hypes, chega de teasers, chega de especulações. What you see is what you get. Mas a pergunta que não quer calar é: qual será o melhor console? Creio que não há uma resposta certa para essa pergunta pois essa é a pergunta errada. Deveríamos estar mais preocupados com nós mesmos. Assim, a pergunta certa seria: o que x console pode oferecer para mim que tem gostos y?
Grande parte da internet dirá que a Sony venceu (ou está vencendo) a competição entre as três grandes empresas dos consoles, porém, isso não deveria ser uma competição. Cada um dos consoles tem seus pontos fortes que devido à maneira como nos foram apresentadas já não são mais “características singulares” e sim “características que esculacham os outros consoles”. As estratégias de marketing da Sony e sua conferência na E3 colocando a Microsoft e seu Xbox One no chinelo com alfinetadas diretas e bem colocadas resultou numa má fama para o Xbone. Entretanto, os dois consoles agora já estão nas mesmas estantes de milhares de lojas e desfrutam das mesmas características, as quais a possível carência causou o maior auê antes do seus lançamentos: Podem-se usar jogos usados e emprestá-los sem restrições. Talvez a Microsoft não mudasse esse aspecto dos jogos usados tão rápido se não fosse pelo soco na cara revide da Sony – visto que os apelos dos fãs e nada não tem diferença para alguns de seus funcionários - mas creio que isso seria um tiro no pé e eventualmente ela acabasse por aquiescer. Enquanto isso, latente e envolto pela briga entre esses dois consoles, o Wii U segue com a fama de “apenas um Wii, só que agora em HD”. Talvez seja pela elegância da Nintendo em não fazer propagandas dando enfoque a concorrência que poucos lembram que ele possui retrocompatibilidade com seu antecessor e serviços de multiplayer online gratuitos, aspectos esses pertinentes (para muitos gamers) e ausentes no PS4 e no Xone.
Mas cada empresa ainda tem muito que aprender uma com a outra. Elas, embora já estejam no mercado há muito tempo, ainda tomam atitudes um tanto deselegantes. A Nintendo, por exemplo, sempre foi muito “ética e educada”. Você nunca veria uma resposta direta dela contra a concorrência da mesma forma que sua conterrânea Sony fez. Porém, entre as três, a meu ver, ela é mais orgulhosa de todas; possivelmente porque é a mais velha e a única das três que vive unicamente do mercado de games – particularidades que não justificam tamanha vanglória. Em ’96, com seu N64, ela cometeu um erro que foi crucial para o fim que o console teve: Negligenciar atenção às desenvolvedoras. Na época, com o advento do PSX, a grande massa dos game developers ansiava por uma mídia de maior capacidade de armazenamento, que era o compact disc, mas a Big N era tão big que preferiu continuar com a mídia que ela queria. E se não bastasse, ela ainda parecia vigorar suas políticas estritas de publicação de jogos em seu console: era necessária uma aprovação dela para que o jogo saísse, então se ele fosse muito violento, antiético, ou not-the-type-we-want-for-a-nintendo-console ele não seria publicado. Juntando esses dois fatores, podemos entender porque a diferença de tamanho da biblioteca de jogos e número de vendas entre o N64 e o PSX é imensuravelmente grande. E no presente momento a Nintendo parece estar cometendo o mesmo erro. O Wii U tem poucos jogos ainda, muito por conta da Nintendo não ter preparado ao menos uns dois títulos first-party para vender o console e também por apenas jogar os kits de desenvolvimento para as desenvolvedoras e não ser receptiva para com elas, diferentemente da Sony que entrega seus kits e conversa com as developers. Mas ainda dá tempo para mudar.
Além disso, algo que a Nintendo tem que as outras não têm é a coragem para inovar de maneira mais drástica. Isso já fica claro se olharmos os controles de seus últimos cinco consoles de mesa que são quase inteiramente diferentes. E também se preocupa com o bolso de seus consumidores lançando geralmente o console mais barato do mercado (o que não significa necessariamente o console menos potente em relação ao hardware, vide os gráficos do Gamecube que eram superiores ao PS2 e ele era mais barato). Dessa forma, pensando no avanço dos games como um todo, sem dúvida, na questão de proposta de gameplay e controles, a Nintendo tem exibido um papel excepcional; enquanto nos hardwares a Sony vem investindo cada vez mais em potência gráfica.
Atualmente, com o PS4, a Sony vem tomando atitudes um pouco competitivas. Na geração passada seu console ficou 20 milhões de unidades vendidas atrás do Wii, que possuía um hardware muito mais inferior. Nessa geração, no atual momento e com um console possante, as vendas do PS4 vêm mostrando um comportamento bem melhor do que seus concorrentes. Porém, ainda assim, ela vem tomando cada vez mais atitudes que parecem focadas unicamente para combater a concorrência. Posso citar, por exemplo, o touchpad do controle do PS4, que ainda tem muito a ser explorado, mas até o momento ainda não me convenceu. Ele é muito pequeno para ser de muita utilidade. A Sony disse que sua proposta com ele seria evitar colocar mais botões que o jogador teria que lidar, mas ele simula mais botões (?) e serve pra ser utilizado como uma espécie de cursor (Er... O analog stick já não faz isso pra gente?). Tirando o fato que você tem que tirar seus dedos da posição “standard” para poder usá-lo, enquanto no PS Vita o touch foi muito melhor executado por ser posicionado atrás do controle e também melhor executado no Wii U porque ele funciona quase como um tablet e quando você for utilizá-lo para clicar de fato - não só checar mapas, itens, etc. em algum jogo – você vai parar o que estava fazendo na tela principal e vai olhar para o controle. Parece que ela só colocou o touchpad porque “A Nintendo também”. Ela também lançou agora um bundle que vem com o PS4 e o PS Vita /vulgo peso de papel/ junto, e você pode usar o console portátil para fazer compartilhamento de tela, e assim jogar o PS4 na tela do Vita. Novamente, coisa que o controle do Wii U por si só já faz. Parece que desde o PS3, onde o PS Move chegou depois do Wii com seu Wiimote, a Sony tem gostado de lançar “soluções” para que seus produtos possam oferecer o mesmo que as outras empresas – nem que isso seja de uma maneira flopada. Entretanto, a Sony é uma empresa que apesar de deslizar em algumas atitudes, é uma empresa que sabe ouvir. Por isso acertou em cheio ao oferecer serviços de sharing e streaming de conteúdo (via twitch.tv) totalmente integrado com o PS4 pois ela observou que isso está virando tendência (e assim evitará que muitos streamers tenham que comprar uma placa de captura por exemplo).
Por outro lado, a Microsoft aparentemente desconhece a importância de algo chamado feedback. Antes do lançamento do Xbone, praticamente todo o público desgostou da atitude da empresa em exigir estar online para jogar, mesmo que off-line e também a cobrança de taxas para utilizar jogos usados/emprestados. O ex-funcionário Don Mattrick, responsável pela seção de entretenimento interativo da empresa fundada por Bill Gates, chegou a falar, quando questionado, como ficariam as pessoas que gostariam de jogar Xbone e não tinham acesso à internet que: “Felizmente, temos um produto para pessoas que não são capazes de obter algum tipo de conectividade; é chamado de Xbox 360.” Felizmente também, Mattrick é agora ex-funcionário e a Microsoft, mais pela pressão da concorrência do que pelo apelo do público voltou atrás com essa decisão. Mas nem tudo é flop no novo console da empresa – como implica a Sony. Agora ela tem um Kinect mais apurado que, aliado ao hardware mais vigoroso tem muito potencial para jogos de dança e de movimento em geral. Outra coisa que pouca gente entendeu é que o Xbone foi pensado também como uma espécie de media center, onde todas as suas atividades realizadas na televisão podem ficar num lugar só. O PS4 possui leitor de Blu-Ray também, mas assistir um filme no Xbone é mais “aconchegante”, pois apenas com comandos de voz você consegue fazer o caminho filme-jogo-TV-TV por assinatura em qualquer ordem.
Agora pense comigo, depois de todas essas informações e ponderações, todo esse blábláblá, que se reverberá pela internet em comments, posts diversos e vídeos; tem mesmo um console que pode ser chamado de “o melhor”? Vale a pena ansiar por esse console utópico? As empresas não estão inteiramente focadas em criar um console apenas para os gamers e/ou focado para fazer a indústria da área crescer, mas esses são aspectos de grande relevância para elas na hora de planejar o seu próximo videogame. O seu dinheiro tem que ser gasto com algo que você goste, não com o mais lucrativo ou o melhor. O que pode ser melhor para você pode não ser o melhor de todos, mas isso não terá a menor importância para você. Logo, acima de tudo, cada console é bom dentro de sua singularidade, assim como cada um de nós. E embora isso soe o mais clichê possível, cada pessoa tem sua outra prepare-se para a expressão brega lvl 8000 “cara metade” assim como cada gamer tem o seu videogame, só é preciso descobri-lo.